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Words

Se uma imagem vale mais que mil palavras, então, aqui se escrevem por mil palavras, no mínimo, uma imensidão de imagens. É o principio de uma viajem pelas letras, entre linhas e parágrafos, a tentativa de por o mundo no papel de uma forma, pelo menos para mim, diferente do meu porto seguro. Tentemos!

Tratado Adjudicado

Há uma ideia em construção nas fronteiras da sabedoria onde floresce a cegueira, essa planta autóctone do hipocampo menstruado. Tratemos a ideia como um todo, uma flor, um grito mudo, uma citara ocre que desfere umas notas em azul. Uma música sem cor, uma flor sem caule, um dente sem raíz. Outrora havia razão na pele eriçada, no áspero arrepio calafrio que gelava o dorso. Mas isso foi há muito tempo, quando a ideia fervilhava na medula. Se há luz na ideia, à sobra na ignorância feliz de infantilidade fútil, mas apreciada, austera de azuis profundos no baixo ventre infértil de sinapses fulgurais. Fujamos então das anorexias cerebrais, e que degenerem, por sua vez, em hemorragias verbais, que se calem os rouxinóis, que assobiem os pardais nos parapeitos da sabedoria guardada na oralidade vertical da maternidade paralela na língua apátrida. Articule-se um laivo, um soslaio de sobrolho, uma ruga na testa enquanto se coça um pobre cabelo. Ideia calva, fértil ignorância de um rebento aromático em estágio precoce. Sugere que enche, perde-se numa virgula, desencontra-se no ponto. Contrapõe um argumento, atira uma posta, aceita um senão quase sem condição. Não era para rimar mas rimou. Paciência… Deixa-se a ideia entregue ao acaso, há de sofismar, interpolar e vingar, há de ganhar pernas e aprender aandar: é só uma questão de tempo.

    • Quero uma coisa, assim, simples mas sofisticada. Entende?
    • Podemos sempre por um turbante. Torna-se mais complexo. Por exemplo. Concorda? É actual, “étnicorgânico”, assim meio isso, não?
    • Quero uma ideia original, nunca d´antes vista, ouvida ou lida. Uma radiografia cósmica regurgitada num erro fácil. Hum?
    • Genial! Sofisticadamente simples. Ignóbil besta hexagonal.

Num gesto ténue, fraco de luminosidade, esbanjamos horas falsas nas mesas frias do conhecimento fraternalmente dividido pelos cacos desfeitos da ignorância instalada. Vai um copo de água? Uma epidural anal para que seja mais fácil defecar apenas por gravidade? Hum? Fechamos um triângulo escaleno num retângulo esdrúxulo, tudo num demorado aperto de mão? Isso… Boa ideia. Adjudique-se a banalidade.

Frederico van ZellerComment