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Words

Se uma imagem vale mais que mil palavras, então, aqui se escrevem por mil palavras, no mínimo, uma imensidão de imagens. É o principio de uma viajem pelas letras, entre linhas e parágrafos, a tentativa de por o mundo no papel de uma forma, pelo menos para mim, diferente do meu porto seguro. Tentemos!

Indivisibilidade Da Luz

    Dividem-se as coisas em partes iguais, outras diferentes, tanto faz. Abrem-se fendas para que entre o calor, para que se deixe invadir de luz. Das luzes do saber e do sim. Por entre a fenda maior jorra vida em estado luz, em estado alma, em estado paz. Não sabia que a luz podia ter estados, mas tem, eu vi, senti-os quando me abraçou, quando se curvou para me rodear e num breve esgar me assombrou. Nunca uma sombra foi tão luz. Só há uma condição se houver, ao mesmo tempo, a sua negação: sombra, luz, sim e não. 

   Divide-se o dia da noite. O sol da lua. Eu de ti. Divide-se a água do fogo, a terra do ar e as montanhas separam-se, ao longe, da planície. Abrem-se fendas e dividem-se os continentes, rasgam-se oceanos entre nós e o mar, que de tão imenso, ganha um nome. Afinal nada se transforma e tudo se divide. Incrível.

   Separamos um raio de luz e fazemo-lo passar entre nós, no nosso espaço entretanto dividido, e por gravidade ou por uma magia cósmica, imaginemo-lo sem rodeios, à nossa volta, envolvendo-nos de si próprio. 

    Essa finita fonte de luz jorra vida, enquanto eu, num movimento lento, me afasto da sombra e me empurro sozinho sem medo algum, da treva, do não, do não nós. Um dia findará, essa dita fonte, e não sei se primeiro eu ou a luz, dividir-nos-emos em ciclos suaves. Houve em tempos uma versão do não nós que se resolveu, noutra forma, noutro dia e noutra noite, entretanto há um alísio que sopra vertical sobre as ondas de sal, vagas lentas, tempestades, e reinará o escuro, o não, ou um singelo sim no ténue firmamento. Como tudo é frio nesta frase.

     Na divisão das coisas ficou por separar o meu espanto por ti. Indivisível como o som das sombras escondidas atrás de nós enquanto enfrentamos, de pé, a luz. Sempre, nas avessas das coisas indivisíveis, há uma possibilidade de sim e outra de não. Por isso são assim, tão misteriosas e contrárias, as sombras longas nas luzes baixas. Chamem um tal de siroco, e ele, que de um fôlego só, leve e separe uma frase em partes iguais e as espalhe por continentes desunidos à sombra fria contrária da luz. Que se erga ao meio-dia e elimine, o mais que poder, em toda sua verticalidade, a sombra gélida da separação. 

    Assim, por decreto divino, que se una o separado e se preencha o dividido. Que se funda a sombra com a luz, que as arestas cruas, tão finas e longas,  tão distantes e sombrias, se suavizem em laivos quentes num sopro austro leve e consequente. Que traga, por fim, essa luz, paz em mantos sólidos e cobertas estanques de união infinita entre o eu solidificado e o resto do mundo, em graça, unificado.