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Words

Se uma imagem vale mais que mil palavras, então, aqui se escrevem por mil palavras, no mínimo, uma imensidão de imagens. É o principio de uma viajem pelas letras, entre linhas e parágrafos, a tentativa de por o mundo no papel de uma forma, pelo menos para mim, diferente do meu porto seguro. Tentemos!

Tratado possível

Começamos numapromessa de possibilidade, do que pode vir a ser, do que se propõe em projecto mesmo antes de ser. Ser, por si, já foi promessa, já foi possibilidade, já foi estaminal, já foi tudo o que podia ser, mas agora, só é.

Ser, só ser, é trivial, é mediano se nada mais acontecer. Ser uma possibilidade de tudo é mais interessante. Ser uma promessa variável que responde ao estimulo, é mais interessante, ser o que se quiser, um limbo próprio de onde só se sai depois de nascer. 

É possível nascer várias vezes? Diria que sim, é possível. Não nascemos só na violenta expulsão do ventre da nossa mãe, primeira condição cruel, mas nas outras possibilidades de parto igualmente brutais que nos tiram a capacidade de sermos de novo possibilidade, segunda condição cruel. Mas há mais: vamos fechando o possível eu, o projecto de mim, em gavetas trancadas nas profundezas das dores de parto que a vida nos transfere, nos entrega, que nos pare. As possibilidades afunilam, esgotam em si, em mim, quando atravesso a rua ao encontro das coisas, aí, a promessa esvai-se, em cada passo, e no meio da rua já somos só meia coisa a caminho de uma probabilidade.

Somos a promessa de tudo enquanto somos só promessa, no regaço do - relativo espaço tempo - dentro de um universal quântico. É possível que o tempo, em si, seja ele uma possibilidade também.  É possível que o tempo até não seja real, que a linha seja vertical, afinal o tempo é uma linha, complexa, mas é uma linha.

Há outros partos, dizia, dos quais não queremos ser filhos, por nos tirarem a promessa, por nos entregarem aoutros colos menos prováveis, menos narráveis, os possíveis. Nas escolhas, as possibilidades esgotam-se em consonância com o tempo oblíquo, escondem-se nas sombras azuis, frias, dos dias celestes, luas mestres, estrelas do Norte. Há escolhas que não escolhemos, são possibilidades em aberto. Há Nortes que viram Sul, conforme os ventos, as vontades incertas dos ventos, mas também do possível tamanho das velas içadas e balões cheios logo ali nas salas de parto. Vê como a possibilidade muda tudo? Entende como a promessa constrói o conceito? E o parto destrói? Somos a possibilidade em promessa enquanto não prometemos nada. Somos alpha e beta ao mesmo tempo, zero e um em simultâneo enquanto não olhamos, em probabilidade, em discernimento e em constante pergunta, uma intensa interrogação quântica.

Confuso? Eu também, confesso. Mas imagine: em determinado momento, a estrela mestre, a que indica o Norte, indica Sul precisamente no mesmo momento. A escolha é de quem sublima, de quem nasce naquele momento, de quem parte. Terceira condição cruel: quem nasce, parte, quando os cabos esticam, o vento sopra, o leme fixa o rumo e o velame enche, a proa puxa a poupa, como deve ser, mas o parto cega, o parto vela, embacia o rumo, afrouxa a genoa, enquanto sopra forte o Minuano, o mestre genuflecte e genuinamente verga-se no parto.

 

Frederico van ZellerComment